quarta-feira, 29 de julho de 2009

Recentemente terminei de ler "Leite derramado", do Chico Buarque. Acho que o momento foi bastante interessante e deu super certo, calma, vou explicar...

Leite derramado nos fala de um senhor, no seu leito de morte, que passa a contar suas memórias, não necessariamente, para alguém específico, ele apenar oferece, a quem quiser ouvir, um monólogo rico e fascinante da sua vida, dos tempos de glória e dos tempos de não tanta glória. Ele nos presenteia com seu mundo, um mundo cheio de cores, alegrias e dissabores, que remonta-nos para o Brasil Império e nos faz percorrer os dias e os acontecimentos até os dias de hoje. É uma leitura leve, delicada, confusa em alguns momentos, que emociona e encanta...

Por que a identificação? Eu creio que qualquer pessoa que conviva diariamente com um idoso, vai entender e se identificar com as retomadas da mesma história várias vezes, com as confusões, tão inerentes a essa fase da vida, com o jeito infantil, com as lembranças envelhecidas de um tempo em que não existiamos, mas que existiu para essas pessoas queridas...
Um livro altamente recomendável, Leite derrado, do Chico. :)

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Ela sabia que uma teia invisível tecia sua vida, o que ela não sabia era que existia um infinito de possibilidades e caminhos, afinal, não fazia sentido para ela, pois não enxergava grandes perspectivas. Habituou-se a dizer que vivia um dia de cada vez, porém esqueceu de dizer que fazia isso não por escolha, mas sim por não saber agir de outra forma e se algum dia lhe passou pela cabeça tentar encontrar o seu próprio jeito/forma de viver, isso durou apenas alguns segundos, tempo suficiente de algo lhe chamar atenção e ela desviar-se de si mesma.

Ela era sensível e também instrospectiva, o que lhe conferia um ar sério, por vezes, esnobe. Era assim que a viam. Olhava para o céu, as estrelas, as nuvens e a lua, sempre como se os vissem pela primeira vez e, então, sorria, encantada com tamanha beleza... Sensação semelhante ocorria quando olhava uma criança sorrindo, com os olhos brilhando... Tudo virava luz e alegria, para ela.

Exigia muito de si mesma, mas pouco, muito pouco da vida. Sabia apreciar os pequenos gestos e acontecimentos, pois achava que as coisas grandes demais serviam mais para chamar atenção e, com isso, não se enxergava o seu significado e sentido. Já os pequenos gestos e gentilezas, penetravam o mais fundo da sua alma e por lá se aninhavam. Podiam ser simples, mas costumavam ser constantes, o que indicava, que nunca, em momento algum, era esquecida... E isso valia mais que tudo...

Foi assim que viveu, até seus últimos dias, maria, falecida no dia vinte nove de fevereiro de dois mil e nove, aos 21 anos.

x* namastê *x

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